domingo, 2 de abril de 2017

A Praia

Onde foi? Não me perguntem detalhes. Há pormenores que se vão perdendo com o passar do espaço. Sei que era madrugada. Bem cedo ou bem tarde, depende da maneira como se enche o copo. Se eram 5, 6, 7 horas? Já não me recordo. Sei que tinhamos de estar lá cedo. Era nossa obrigação desfrutar tudo. Nota máxima. 100% eficácia nas férias!

Assim ia a familiazinha à praia. O pai ao volante com a mãe ao lado e eu estofado entre sonos no banco traseiro. Sonhando com todas as novas e extraordinárias aventuras prestes a revelarem-se em mais um dia de férias na praia. As "Férias Grandes de Verão" ,esse período extraordinário de 2 meses e picos sem escolinha, em que cada dia é preenchido com acção galopante e fascínios vários.

Lembro-me de uma discussão feia. Já não sei se acordei com o barulho ou se estive desperto desde o início. É como vos digo, os detalhes esfumam-se. Recordo os gritos. Recordo o clamor de brados partilhados nos bancos da frente, como raquetadas de amargura num concurso de ódio.

E foi assim que as acusações se amontoaram debaixo dos bancos; as desconfianças cresceram até baterem no tejadilho e o porta-bagagens ficou lotado de rancor e toalhas de praia. Já não cabia mais nada naquele carro em excesso de carga e era claro que alguma coisa tinha de sair... e saíu.

Saíu o pai quando com uma violenta guinada à esquerda, cavalgou o Opel Corsa em contramão estrada fora, pedal a fundo até...

Aqui a memória começa a falhar a sério.

5 segundos? 10 segundos? 1 minuto?! Uma semana?!
Se recordo gritos? É provável. Se lembro os faróis de um camião como 2 sóis ardentes na face? Talvez. Terror? Sim, definitivamente.

Não me lembro do resto. Não me lembro do fim.

Hoje, quando me perguntam porque não gosto de praia, digo que a areia me faz comichão.

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